São eles que parecem descontrolados!

por Adriana Vasconcelos

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Se tem uma coisa que jornalista está acostumado a ver é a subida e a descida da roda do Poder. A soberba de quem acredita estar no alto quase sempre é o caminho mais curto para uma queda brusca, sem escalas.

Daí a importância de chefes de governo de se cercarem de assessores e pessoas que não lhe permitam perder o contato com a realidade. Mas essa é uma lição que muitos aprendem tarde demais.

Mesmo os mais experientes, às vezes, são traídos pela vaidade.

É o caso do ex-presidente Michel Temer, que inebriado com o sucesso de sua intervenção para conter os arroubos anti-democráticos de Jair Bolsonaro, tropeçou ao permitir que seu marqueteiro pessoal filmasse e divulgasse para a imprensa uma imitação ridicularizando seu sucessor na Presidência da República.

O curioso é que foi justamente esse sentimento de confiança excessiva que levou Bolsonaro a desafiar o estado de direito democrático em meio às manifestações do último 7 de setembro.

No calor daquele momento, como ele próprio definiu 2 dias depois, Bolsonaro nem de longe imaginaria que teria de pedir a ajuda de seu antecessor, a quem delegou a tarefa de redigir uma carta à Nação recuando em suas ameaças de descumprir decisões de ministros da Suprema Corte.

O que dizer então do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga? Um médico cardiologista capaz de suspender a vacinação de adolescentes contra Covid após conversas com o presidente Bolsonaro.

Exatamente aquele que voltou a defender ontem (21), em discurso na abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), um tratamento precoce contra a Covid-19, cuja ineficácia já foi comprovada cientificamente.

Talvez contaminado novamente pelo chefe, que minimizou em vídeo divulgado nas redes sociais protestos dos quais foi alvo em Nova York, Queiroga mais uma vez surpreendeu ao reagir com gestos obscenos manifestantes críticos a Bolsonaro.

Há quem acredite que o castigo, neste caso, veio rápido. Queiroga será obrigado a cumprir quarentena nos Estados Unidos após testar positivo para a Covid-19.

Mas pelo menos por enquanto, Queiroga se livra de ter de explicar as razões do seu comportamento nos últimos dias.

Para fechar o festival de horrores, o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, saiu de seu depoimento na CPI da Covid como investigado, após tentar desqualificar, com ataques machistas, os questionamentos da senadora Simone Tebet (MDB-MS) sobre a omissão da CGU diante de suspeitas de irregularidades na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde.

Em vez de rebater com dados e argumentos as incoerências da CGU apontadas pela senadora Tebet, uma das mais aplicadas parlamentares da CPI da Covid, Rosário preferiu chama-la de “descontrolada”, tática comum usada por homens que não aceitam ser contestados por uma mulher.

Diante dos últimos acontecimentos, definitivamente são eles que parecem descontrolados! Inconformados com a realidade dos fatos.